Em 2022, a Serra de Baturité comemora 200 anos de presença preciosa do café em seu território.
Café que desde os primórdios mudou o rumo da história da região, trazendo migrantes, divisas, desenvolvimento e uma importante lição: não desmatar. Apreendemos o manejo sustentável da floresta com o café de sombra.
O Selo Comemorativo de 200 Anos marcará um momento muito especial em que prevalece a revitalização do plantio sustentável associado ao turismo, nossos grãos estão no mercado do café especial, a expansão da Rota Verde do Café, o processo (em andamento) de reconhecimento para obter a Identificação Geográfica (IG) e a consolidação de municípios da Serra de Baturité enquanto apoiadores do café de tradição.
Café de Sombra
A atividade cafeeira tem um papel crucial na manutenção da paisagem do Maciço de Baturité, de fauna e flora diversificadas, considerada um refúgio para diversas espécies, assim como para pessoas que desejam desfrutar de uma paisagem exuberante de floresta e cachoeiras. Iniciada em 1822 num sistema de cultivo a pleno Sol avança já na metade do século XIX representando importante produto na pauta de exportação cearense.
O plantio de pleno sol permitiu a expansão dos cafezais, provocando igualmente a derrubada da mata nativa e a exaustão dos solos. Depois de algum tempo a terra perdeu a umidade, tornando-se improdutiva. Somente então, vieram as tentativas de arborização.
Camunzé e ingazeira começaram a proteger os cafezais do sol, este tipo de árvore, especialmente o ingá, concentra a umidade e enriquece o solo com a queda de suas folhas e têm a vantagem de abrigar os inimigos naturais das pragas. Outras espécies floresceram espontaneamente e tornaram os cafezais produtivos, durante décadas, com solo livre de produtos químicos, adubados com a palha de café e outros detritos orgânicos.
Seguindo esse processo bem natural, a colheita do café com grãos 100% arábica não fugia a regra. Feita à mão pelas mulheres, conhecidas como apanhadeiras, enchiam seus balaios presos à cintura. Café colhido e devidamente medido seguia para faxina – espaço destinado para secagem ao sol. Depois de seco, o café era levado à piladeira para o beneficiamento.
Essa forma de plantio tem historicamente favorecido à manutenção dos ecossistemas e da própria atividade que esteve perto da extinção no período anterior.
História
A história do café no Nordeste remonta ao Século XVIII quando sete libras de café cultivados pela primeira vez no Pará já embarcavam no Santa Maria, em 1731, e se tornou tão promissor que três anos depois já somava 3000 arrobas para exportação. Tamanha força econômica faz com que o café comece a se espalhar e chegue ao Ceará por volta de 1745 pelas mãos do capitão-mor de Sobral, José de Xerez Furna Uchoa com grãos originários do Jardim das Plantas de Paris. A indústria cafeeira cresce no Ceará nas regiões menos afetadas pelas secas – as serranas.
As primeiras sementes de café chegam a Serra de Baturité por volta de 1822 trazidas do Cariri e posteriormente do Pará foram plantadas num sistema de pleno sol, ganhando aos poucos a adesão dos donos das terras e de migrantes sertanejos que lá pelos anos de 1840 formam presença na região em busca de melhores condições de trabalho. A partir de 1846, o café entra na lista das exportações da província. Registros mostram que no período de 1846 a 1857 centenas de quilos foram exportados pelo porto de Fortaleza - café de boa qualidade sendo o diferencial responsável pelo incremento da produção e comércio local e que em alguns momentos supera a exportação de algodão em valor. Assim, cidades como Baturité e Mulungu tiveram na cultura do café sua principal atividade econômica e tornaram-se um importante produtor nacional, chegando a deter 2% de toda a produção brasileira.
Tanto que para escoar a safra foi construída a primeira ferrovia no estado – a Companhia Cearense da Via Férrea de Baturité –, interligando Baturité à capital. Outro fator que demonstra a opulência do período foi à criação de uma moeda própria, de bronze cunhada em Portugal, conhecida como boros. A moeda tinha lastro no café e funcionava como promissória e circulou por todo o Maciço e chegou a várias regiões do Sertão, como Quixadá.
SELO COMEMORATIVO 200 ANOS DA PRESENÇA DO CAFÉ NA SERRA DE BATURITÉ
Na Serra de Baturité – 100 km de Fortaleza, encontramos uma produção de café sombreado de importância ambiental e socioeconômico que já chegou a exportar toneladas de um café diferenciado.
Desde 2013 o SEBRAE Ceará Regional Maciço de Baturité, em parceria com as Prefeituras locais, aplica o Programa Café Verde para o desenvolvimento sustentável da cafeicultura local através de ações que procuram garantir a recuperação e a conservação dos recursos naturais, a valorização da identidade cultural, do patrimônio histórico e de modelos sustentáveis de produção que promova uma melhoria da qualidade de vida em harmonia e equilíbrio ambiental construindo, paralelamente, o fortalecimento das organizações produtivas. Cabe ao Programa disponibilizar soluções inovadoras e tecnologia eficientes para garantir um impacto ambiental positivo.
É no clima da Serra, à beira dos pés de café, que o SEBRAE Ceará promove a Rota do Café Verde (2015), reunindo cidades serranas remanescentes da cafeicultura de sombra: Baturité, Mulungu e Guaramiranga. No caminho, plantações de café em meio à Mata Atlântica, os processos de torra e moagem, circundados pelas belas fachadas originais de casarões centenários com suas poltronas de palha e brocados onde ainda moram o cheiro e o sabor de suas raras sementes. Tudo isso numa boa conversa com as antigas famílias produtoras da região em seus jardins repletos de flores e pássaros e - é claro - um bom cafezinho.
Participar da Rota Café Verde do Ceará auxilia na permanência do Agricultor Familiar na região, garantindo os cinturões verdes, qualidade da água e do fácil acesso do consumidor a um café de qualidade e de prática sustentável.
Em 2020, o deputado Audic Mota apresentou na Assembleia Legislativa do Ceará o projeto de lei n° 183/20, que institui a Rota do Café no Maciço de Baturité como Circuito Turístico no Estado.
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