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Primeira noite de colação de grau 2025.1 em Fortaleza celebra a presença de quem antes estava ausente

  Existe um tipo silencioso e sorrateiro de violência que historicamente permeia a sociedade brasileira. Ele consiste em   negar o direito a estar presente . Em seu livro   Memórias da plantação , a escritora Grada Kilomba chama isso de “princípio de ausência”. Trata-se de um mecanismo de poder pelo qual determinados sujeitos – sobretudo pessoas negras – são sistematicamente apagados da produção de conhecimento, da história, dos espaços e da representação social, mesmo estando presentes na realidade. Dessa forma, naturaliza-se a ausência do negro em lugares de fala e saber, transformando essa exclusão proposital em norma. Matias Viana  sabe bem o que é esse princípio. Jovem preto da comunidade Tabapuazinho, na Caucaia, ele cresceu percebendo que muitas coisas não eram para ele, muito menos a produção de conhecimento. Porém, não aceitou essa condição. Matias Viana, recém-formado na UFC, busca estratégias para "enegrecer" a filosofia (Foto: Viktor Braga/UFC) Ironicamen...

Primeira noite de colação de grau 2025.1 em Fortaleza celebra a presença de quem antes estava ausente

 Existe um tipo silencioso e sorrateiro de violência que historicamente permeia a sociedade brasileira. Ele consiste em negar o direito a estar presente. Em seu livro Memórias da plantação, a escritora Grada Kilomba chama isso de “princípio de ausência”. Trata-se de um mecanismo de poder pelo qual determinados sujeitos – sobretudo pessoas negras – são sistematicamente apagados da produção de conhecimento, da história, dos espaços e da representação social, mesmo estando presentes na realidade. Dessa forma, naturaliza-se a ausência do negro em lugares de fala e saber, transformando essa exclusão proposital em norma.

Matias Viana sabe bem o que é esse princípio. Jovem preto da comunidade Tabapuazinho, na Caucaia, ele cresceu percebendo que muitas coisas não eram para ele, muito menos a produção de conhecimento. Porém, não aceitou essa condição.

Imagem: Matias Viana, recém-formado na UFC, busca estratégias para
Matias Viana, recém-formado na UFC, busca estratégias para "enegrecer" a filosofia (Foto: Viktor Braga/UFC)

Ironicamente, decidiu fazer Filosofia, que até hoje lida predominantemente com homens brancos europeus e é considerada a área mais desigual do campo das humanidades em termos de representação racial. Matias forçou a passagem, abriu caminhos. Nessa terça-feira (26), na primeira noite do ciclo de colações de grau 2025.1 dos campi da UFC em Fortaleza, Matias estava presente. Uma presença plena, forte e vibrante. Posou para fotos com a família e, em determinado momento, ergueu o punho direito, repetindo o gesto-símbolo dos Panteras Negras, grupo antirracista que atuou nos Estados Unidos nas décadas de 1960 e 1970.

“Esse momento é muito importante pra mim. Sou um homem preto de favela, então nunca foi uma cogitação pra mim entrar na universidade. Só quando saí do Ensino Médio é que já tinha mudado um pouco da minha mentalidade com relação a isso ser acessível. Foi muito difícil me manter na universidade, devido aos percalços, à falta de dinheiro. Mas com os programas, as bolsas, eu consegui terminar. Isso é uma conquista muito grande não só pra mim, mas para todo mundo que ajudou na minha formação”, comemora.

Matias já leciona em uma escola da rede pública estadual. Para enegrecer a filosofia, diz que utiliza em sala autores brasileiros e africanos. “Faço isso por uma questão de representatividade. Se eu chegar para um aluno e falar sobre um europeu branco, ele não vai se identificar. Eu sou do movimento hip-hop, então utilizo o que eu costumo chamar de filósofos contemporâneos: pessoas que produzem filosofia não estando na academia, mas que através de suas músicas estão conseguindo passar determinadas informações. Uso isso como metodologia de ensino”, compartilha. Além disso, ele faz parte de um projeto social que atende crianças e adolescentes por meio da arte-educação na comunidade onde mora. Tudo para que cada vez mais os ausentes se tornem presentes.

EDUCAÇÃO POR MEIO DO REGGAE – Outra que resolveu ser presença e fazer a diferença em nome da representatividade foi Jéssica Marília de Sousa, concludente do curso de Dança. Durante a graduação, ela se aproximou da cultura reggae e resolveu trazer a temática para dentro da universidade. As vivências no reggae foram trabalhadas por ela no TCC, aprovado com nota máxima, e deram origem ao projeto EducaReggae, que promove aulas de reggae e de passinho, e conta com mais de 30 mil seguidores no Instagram.

Imagem: Jéssica de Sousa é uma das mais novas graduadas em Dança pela UFC (Foto: acervo pessoal)
Jéssica de Sousa é uma das mais novas graduadas em Dança pela UFC (Foto: acervo pessoal)

“Com o surgimento do EducaReggae, o principal foco era romper o estigma já enraizado desde a infância sobre tudo que envolve a cultura reggae. Sendo assim, unindo educação e reggae aos ensinamentos adquiridos na Licenciatura em Dança, conseguimos chegar em cada vez mais espaços dentro e fora de Fortaleza. Falar de reggae é falar de representatividade. E ser uma mulher preta, formada em dança, vindo de periferia e que traz temáticas de ancestralidade em pauta é um ato político e de revolução”, explica Jéssica.

Veja outras imagens da solenidade no Flickr da UFC

NASCIDO E FORMADO NA UFC – Outra forma de proporcionar a presença e a oportunidade a quem antes estava ausente é lançar mão da tecnologia. Daí a importância dos cursos a distância. Foi assim que Elinardo Rodrigues conseguiu se formar em Letras-Inglês pela UFC, por meio do Instituto UFC Virtual.

“Particularmente pra mim, que sou uma pessoa com deficiência e uso cadeira de rodas, foi bom a universidade proporcionar essa oportunidade [de um curso a distância], para que eu pudesse realizar esse sonho de me formar como professor de Inglês. Eu não tinha como me locomover, mas com o virtual esse sonho pôde ser concretizado”, celebra Elinardo, que destaca a importância de se adaptar às mudanças e de “transformar as dificuldades em possibilidades”.

Imagem: Elinardo, formado em Letras-Inglês, já leciona em uma escola no município de Aracati (Foto: Viktor Braga/UFC)
Elinardo, formado em Letras-Inglês, já leciona em uma escola no município de Aracati (Foto: Viktor Braga/UFC)

Ele diz que a colação tem um sabor especial porque ele literalmente nasceu na UFC, já que veio ao mundo na Maternidade-Escola Assis Chateaubriand (Meac), que integra o Complexo Hospitalar da universidade. Conta que sempre gostou de estudar e ensinar inglês. Atualmente, leciona na Escola de Ensino Médio de Tempo Integral Barão de Aracati, no município de Aracati, e diz estar muito feliz com isso.

TAPIOCA COMO INCENTIVO À PRESENÇA – Para que a presença de um(a) estudante seja efetivada na universidade e culmine na conclusão do curso, muitas outras presenças certamente estão por trás, dando o suporte necessário durante a longa caminhada na graduação. Foi esse o mote do discurso da oradora discente, Arianne Lima, do curso de Ciências Ambientais.

Ela agradeceu especialmente ao pai, que todos os dias, ao longo dos anos de curso, preparava tapioca no café da manhã e levava a estudante até a parada de ônibus. Também agradeceu ao companheiro, aos amigos e a todos os trabalhadores da UFC.

Imagem: Arianne Lima foi a oradora discente da primeira noite de colação de grau em Fortaleza (Foto: Viktor Braga/UFC)
Arianne Lima foi a oradora discente da primeira noite de colação de grau em Fortaleza (Foto: Viktor Braga/UFC)

“É graças a esse compromisso diário de tantas pessoas que hoje estamos aqui. Que a educação de qualidade nunca seja privilégio de poucos, e que a universidade pública siga desempenhando, com firmeza e coragem, o seu papel na democratização do conhecimento”, salientou.

SEDUÇÃO DO CONHECIMENTO – A oradora docente, professora Clarissa Freitas, do Instituto de Arquitetura e Urbanismo e Design, disse que o conhecimento sempre a seduziu. Por isso ela falou sobre “o potencial transformador da paixão pela descoberta, pelo ato de imaginar o inexistente: pelo sonho”. E também pontuou sobre a relação entre professores e alunos.

“Não estamos aqui pra proteger vocês dele. Tampouco estamos aqui simplesmente para explicar o mundo para que vocês aprendam a lidar com ele. Não acreditamos em um processo de aprendizagem paternalista, e nos esforçamos para que a criatura supere o criador. Os alunos que carregam o DNA da UFC são antes de tudo agentes de transformação desse mundo injusto, complexo e cheio de desafios que a gente vive. Diante dos obstáculos cotidianos, e dos desafios contemporâneos da guerra, da fome, da corrupção, da intolerância, nosso trabalho como docente é acolher com doçura, para que vocês se sintam seguros para voar e transformar esse mundo gorjeando”, disse, após citar o poema “Gorjeios”, de Manoel de Barros.

Imagem: A professora Clarissa Freitas, do IAUD, representou os docentes na cerimônia (Foto: Viktor Braga/UFC)
A professora Clarissa Freitas, do IAUD, representou os docentes na cerimônia (Foto: Viktor Braga/UFC)

DIPLOMA COMO PASSAPORTE – O reitor Custódio Almeida lembrou que, ao conquistarem o diploma na UFC, os concludentes também conquistam a consciência e os argumentos para combater mentiras, retrocessos e preconceitos que empobrecem a humanidade.

“No diploma de cada um de vocês também está registrado o esforço, a dedicação, a competência técnica; estão gravadas as habilidades laborais e as oportunidades incubadas, e está impressa a inconformidade com preconceitos, com injustiças sociais, com abusos econômicos, com descompromisso político, sendo assim, o diploma de vocês é um passaporte para as transformações que desejamos e necessitamos para a nossa sociedade e para o mundo”, enfatizou.

Colaram grau na noite de ontem 563 concludentes das seguintes unidades acadêmicas: Faculdade de Medicina (Famed), Faculdade de Farmácia, Odontologia e Enfermagem (FFOE), Instituto de Cultura e Arte (ICA), Instituto de Educação Física e Esportes (Iefes), Instituto UFC Virtual, Instituto de Ciências do Mar (Labomar), Instituto de Arquitetura e Urbanismo e Design (IAUD). O ciclo de colações segue nesta quarta-feira (28), na Concha Acústica da UFC.

Fonte: Secretaria de Comunicação e Marketing (UFC Informa) – e-mail: ufcinforma@ufc.br

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