Projeto “Nada Sobre Nós, Sem Nós”, do Centro Cultural Bom Jardim (CCBJ)
Em setembro, mês que marca o Dia Nacional de Luta das Pessoas com Deficiência, o Governo do Ceará, por meio da Secretaria da Cultura (Secult Ceará), realiza a campanha Cultura do Acesso, reunindo uma programação diversa e acessível nos espaços culturais que integram a Rede Pública de Espaços e Equipamentos Culturais do Estado (Rece).
A campanha é coordenada pela Coordenadoria de Diversidade, Acessibilidade e Cidadania Cultural (Codac), e ocorre de forma conjunta com o Instituto Dragão do Mar (IDM) e o Instituto Mirante de Cultura e Arte, instituições parceiras que atuam na gerência de 21 espaços culturais da Secult Ceará que contarão com programação.
A iniciativa contempla shows, exposições, rodas de conversa, oficinas, visitas guiadas e espetáculos teatrais, todos com recursos de acessibilidade cultural. Mais do que uma agenda pontual, a campanha reafirma o compromisso do estado na construção e fortalecimento das políticas públicas voltadas para acessibilidade cultural no Ceará.
A acessibilidade cultural é um dos eixos norteadores das políticas da Secult Ceará. Trata-se de uma pauta permanente, construída de forma coletiva com o campo cultural, para assegurar às pessoas com deficiência o direito de acessar plenamente as experiências que a arte proporciona.
“A Cultura do Acesso reafirma nosso compromisso com a democratização da cultura, garantindo que todas as pessoas, independentemente de suas condições, possam usufruir dos equipamentos e atividades culturais do Estado”, destaca Helena Campelo, Coordenadora de Diversidade, Acessibilidade e Cidadania Cultural (Codac).
Direito constitucional
Participar da vida cultural é um direito de todas as pessoas. Para que ele seja garantido, é fundamental que a experiência artística seja acessível em todas as dimensões, desde o acesso físico aos espaços até como os conteúdos são produzidos e compartilhados.
A campanha Cultura do Acesso convida sociedade e instituições a assumir esse compromisso, promovendo equidade, valorizando a diversidade e reconhecendo artistas, trabalhadores e públicos com deficiência como protagonistas da vida cultural. Mais do que ações pontuais, a iniciativa aponta para uma mudança de paradigma: adotar o anticapacitismo como princípio.
“No campo da cultura, o anticapacitismo se afirma como prática política e estética. Reconhece artistas, produtores, gestores e público com deficiência como protagonistas da cena cultural, não como exceção ou inspiração, mas como sujeitos de direitos e agentes criativos indispensáveis à diversidade cultural brasileira”, explica Thamyle Vieira, mulher cega, servidora e orientadora da Célula de Acessibilidade da Secult Ceará.
Programação
A extensa programação artística de setembro será realizada nos centros culturais, cinemas, planetários, teatros e museus que compõem a Rece, na capital e nos demais municípios. São shows, visitas guiadas, exposições, espetáculos teatrais, filmes, exposições, contações de histórias e muito mais.
A Biblioteca Pública Estadual do Ceará (Bece) inicia suas atividades com o espetáculo “As Aventuras de Mara: descobrindo o planeta das bocas” protagonizado pela artista surda Lyvia Cruz, com participação de Gracy Kelly, no dia 12, na EEIEF 7 de Setembro (Av. Dom Almeida Lustosa, 2322 – Parque Guadalajara – Jurema, Caucaia). Também no dia 12, a Casa de Saberes Cego Aderaldo abre a Exposição Quixadá Fantástico, de Bruno Joe, com acessibilidade em libras.
No dia 13, o Theatro José de Alencar recebe o espetáculo MenosPausa, com acessibilidade em Libras. Já no dia 17, o Centro Cultural Bom Jardim (CCBJ) promove o Sombrinha Literária com o Ciclo de Leitura – Silêncio, um convite a experimentar o mundo por outros sentidos, explorando a surdez e as múltiplas possibilidades de tornar a comunicação mais acessível para todos. A atividade também é uma oportunidade para quem deseja se aproximar e aprofundar o conhecimento em Libras.
De 19 a 24 de setembro, Fortaleza recebe a primeira edição do Festival Surdará, uma celebração da cultura surda com programação gratuita em cinco equipamentos culturais da Secult Ceará. O festival reúne espetáculos, oficinas, vivências e performances conduzidas pela Língua Brasileira de Sinais (Libras), destacando a riqueza e a efervescência artística da comunidade surda. Mais do que uma mostra, o evento valoriza a potência criativa da cultura surda e promove encontros entre artistas surdos e ouvintes, ampliando diálogos e horizontes.
Outro destaque é o Festival Conexão Def – Estação das Artes. No dia 21, quando se celebra o Dia Nacional da Luta das Pessoas com Deficiência, a Estação das Artes recebe o público para uma programação inteiramente protagonizada por artistas com deficiência, reunindo música, dança, circo, poesia e teatro, além da oficina infantil Letras Criativas, com Samuel Vagner.
Na Pinacoteca do Ceará, o público pode conferir, no dia 20, a visita temática Símbolo de Libras Mãos que Falam, Olhos que Escutam, com Lidia Emanuelle e Ligia Bessa.
Ciclo formativo no Cariri
De agosto a setembro, o Centro Cultural do Cariri Sérvulo Esmeraldo realiza o Ciclo Formativo Acesso Plural. A iniciativa reúne oficinas, palestras, rodas de conversa e cursos, que abrangem temáticas fundamentais como acessibilidade estética e comunicacional, direitos das pessoas com deficiência, tecnologias assistivas, língua de sinais, produção cultural, processos sensoriais e de sensibilização.
O Ciclo traz três ações de workshop: “Práticas Sensoriais, Leitores de tela e adaptação de jogos”, com Jefferson Araújo (dias 11 e 16 de setembro); “Dançar entre infâncias e autismos”, com Jônatas Joca (dia 14/09) e “Introdução ao Sistema Braille” (dias 5, 9 e 10/09), com Germano Silva e Tamirys Pereira (Educativo CCCariri).
Outros destaques são o curso “Arte e Criação Anticapacitista” (de 2 a 6 de setembro), com o artista def João Paulo Lima; e a oficina “Composição de tradução de Música – da produção à performance” (dias 19, 20 e 21/09), com Dãrley Santos (PE).
O ciclo também inclui dois debates: “Corpo Intruso – Arte, Cultura e Ancestralidade DEF” (dia 28 de setembro), com a artista DEF, Estela Lapponi (SP), e “Políticas públicas, diversidade, educação e cidadania cultural no Ceará” (dia 18/09), com Thamyle Vieira — trabalhadora da cultura, pesquisadora e mulher cega da Secult Ceará, ao lado de representantes dos núcleos de acessibilidade da Universidade Regional do Cariri (URCA) e da Universidade Federal do Cariri (UFCA).
Acessibilidade cultural
Desde 2016, a Secult Ceará acompanha, discute e propõe ações para ampliar a acessibilidade cultural, em consonância com o Plano Estadual da Cultura (Lei n.º 16.026) e a Lei Orgânica da Cultura (Lei n.º 18.012). Esse processo tem contado com a participação ativa de pessoas com deficiência, que contribuem diretamente para a criação, acompanhamento e fortalecimento das políticas públicas no campo da cultura.
O trabalho em acessibilidade cultural é contínuo e passa por constante reflexão e revisão. Entre os avanços da Secult Ceará nos últimos anos, destacam-se a criação da Coordenadoria de Diversidade, Acessibilidade e Cidadania Cultural (Codac), a Célula de Acessibilidade Cultural (2022) e a formação do Grupo de Trabalho em Acessibilidade Cultural (2016/2025).
A partir desses espaços, a Secretaria implementou ações importantes, como a reserva de vagas em editais de fomento cultural para artistas com deficiência (Decreto n.º 35.819) e a definição de critérios de acessibilidade mais objetivos, incluindo pontuação específica para artistas com deficiência e a exigência de acessibilidade nas produções culturais (2018).
No campo da formação, a Secult Ceará realizou quatro edições do Seminário Cultura do Acesso (2018/2019/2021/2024) e promove ações formativas em acessibilidade para artistas e profissionais da rede de equipamentos culturais.
Essa atuação em prol da acessibilidade também envolve avanços na infraestrutura, como reformas e adaptações de equipamentos, além de aquisição de recursos de acessibilidade e tecnologia assistiva, e contratação de profissionais de acessibilidade, com e sem deficiência.
O Plano Estadual de Acessibilidade Cultural do Ceará (2022/2025), atualmente em fase de finalização, reforça a participação ativa e o protagonismo das pessoas com deficiência nas políticas e práticas culturais.
Desde 2024, a Secult integra o Grupo de Trabalho da Funarte, formado por representantes da sociedade civil, de outras secretarias e da própria instituição Federal.
O grupo debate, propõe e monitora estratégias para combater o capacitismo e promover o acesso e a acessibilidade nas políticas públicas para as artes, garantindo que as instituições reconheçam e fortaleçam a participação de pessoas com deficiência.
Todo esse processo só é possível porque as políticas e ações são construídas com as pessoas com deficiência, e não apenas para elas. É a partir dessa colaboração direta que conseguimos garantir protagonismo, participação efetiva e fortalecimento das práticas culturais no Ceará.
Serviço
Campanha Cultura do Acesso
Programação até final de setembro na Rede Pública de Equipamentos Culturais do Ceará (Rece)
Programação completa
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