No mês em que a alegria toma conta das ruas por causa do carnaval, a Agência Brasil publica uma série de entrevistas com personalidades que expressam a história, a cultura e o espírito da festa que mobiliza comunidades de norte a sul do país.
Elis Sibere dos Santos Monte Trindade de Souza tem nome de rainha e é. Nascida em 4 de setembro de 1981, em Ipojuca, Pernambuco, ela faz as coreografias do grupo de afoxé N'Goma Ti Kambimda. Ela é a rainha da Nação Cambinda, de maracatu, um dos ritmos populares do Nordeste. A nação sai às ruas com um grupo de 35 a 40 pessoas, sendo que há dois porta-estandartes, rei e rainha; o pálio, que protege ambos, mas principalmente a rainha; as damas da coroa; a dama do paço; princesas africanas; as princesas europeias; um feiticeiro, que é quem protege a nação, com ervas; as baianas e o grupo do ritmo, que tem dois regentes que se revezam. O grupo tem instrumentos tradicionais do maracatu, como o mineiro, a caixa, o agbê.
Elis é casada com Vitor da Trindade e sente a responsabilidade que é dar, com ele, continuidade às diversas atividades do Teatro Popular Solano Trindade, sendo a nação apenas uma delas. O espaço fica em Embu das Artes, em São Paulo, fundado pela artista plástica, escritora e coreógrafa Raquel Trindade, companheira de Solano Trindade, poeta, pintor, ator, dramaturgo, cineasta e militante do movimento negro e do Partido Comunista.
Durante a reta final da licenciatura em dança, concluída em 2015, pela Faculdade Paulista de Artes, Elis recuperou a história de Maria Margarida da Trindade, mulher negra que levou o conhecimento das danças brasileiras às terapias propostas por Nise da Silveira. Aluna de Carl Jung, criador da psicologia analítica, Nise foi uma psiquiatra que ganhou reconhecimento mundial por revolucionar o tratamento mental no Brasil.
Agência Brasil: Como começou sua história com a cultura popular e o carnaval? É desde pequena?
Elis Trindade: É bem engraçado que, quando você fez essa pergunta, me vieram coisas da memória de infância que eu não associava diretamente à cultura popular. Vou me apresentar: sou Elis Trindade, uma pessoa negra, de família negra. A maior parte da minha família tem contato com a música, com a arte, mas a gente não entendia isso como profissão, do jeito que eu faço hoje, do jeito que meu irmão, Gustavo, faz hoje. Ele está em Pernambuco, é cantor. Eu só vim a me entender como artista quando cheguei em São Paulo. Mas fazer essas vivências de cultura popular, eu já fazia há muito tempo, e por incentivo da família, porque a gente vai para a igreja e dança pastoril, e porque a maioria das pessoas da minha família é católica. E os maracatus saíam na época de Natal. A gente participava de quadrilhas juninas desde a escola.
Minha família tem até um bloco de carnaval. É o bloco da família Tomé. Todo ano sai na praia de Porto de Galinhas, em Pernambuco. Neste ano, conseguimos juntar mais pessoas da família, porque teve o primeiro encontro em um lugar que é muito significativo para nós, que é um quilombo, onde meu primo mora, de Massangana, Três Marias. É aí que eu começo a entender que minha família já fazia isso e eu saía muito pequena nos bloquinhos de carnaval do bairro. Isso é maravilhoso.
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