Artista transforma viagens na Linha Sul em reflexões sobre corpo, território e memória

 

Os percursos entre Maracanaú e Fortaleza realizados desde a infância na Linha Sul, tornaram-se o ponto de partida para a investigação artística e histórica do pesquisador e artista visual Léo Silva. Crescido próximo ao trecho ferroviário, ele transformou as paisagens em movimento em matéria de criação e reflexão sobre memória e pertencimento. “Cresci fazendo esse trajeto. Primeiro com o trem, depois com o metrô. Com o tempo, comecei a registrar esses movimentos e percebi que ali estava também a minha história e a de muitas outras pessoas”, conta o artista.

A exposição Linha Sul, de Léo Silva, fica aberta ao público de 1º a 30 de novembro, na Estação Benfica, em Fortaleza, com visitação gratuita de terça a sábado, das 8h às 22h. A mostra reúne obras em vídeo, fotografia, performance e instalação, convidando o público a uma viagem sensorial pelos trajetos ferroviários e suas camadas históricas e ecológicas.

Resultado de uma pesquisa performativa e documental, o trabalho se ancora tanto na experiência cotidiana do deslocamento quanto em arquivos sobre a antiga ferrovia. “Essa linha foi construída na segunda metade do século XIX, com o trabalho de retirantes das secas, como obra de socorro público, antes chamada Estrada de Ferro de Baturité”, explica Léo.

As obras utilizam elementos como terra, café, açúcar e algodão, tensionando o olhar urbano e propondo novas percepções sobre natureza e cultura.“Muitos dos meus trabalhos têm terra, têm água, têm café, têm açúcar”, descreve o artista. “É uma escuta material também, composições que nos fazem pensar sobre esses fluxos e as migrações ecológicas.”

Ao deslocar o foco da capital para as experiências periféricas, Léo propõe uma reflexão profunda sobre corpo, território e deslocamento. “Me interessou também uma pesquisa que desmetropolizasse o olhar”, afirma. “As composições se dão com câmera, espaço, arquivo, território, sempre pensando em cruzamentos e travessias”, conclui.

O Metrofor é parceiro do projeto por reconhecer que abrir o sistema metroviário a iniciativas culturais amplia o diálogo com a sociedade e evidencia o transporte público como eixo vital da história e da vida nas cidades.

A exposição Linha Sul é apoiada pelo 13º Edital Ceará das Artes na linguagem de Artes Visuais, realizado pela Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult CE), com recursos provenientes da Lei Federal n° 195 de 2022 (Lei Paulo Gustavo).

Sobre o artista

Natural de Maracanaú, Léo Silva é historiador, mestre em Comunicação e doutorando em História. Formado em audiovisual pela Vila das Artes, teve no pai — ex-funcionário da Rede Ferroviária Federal S.A. (RFFSA) — uma das inspirações para a pesquisa sobre o passado ferroviário. Desde 2016, desenvolve trabalhos que integram arte, ecologia e performance, com obras exibidas no MAC-CE, na Pinacoteca do Ceará e na Casa de Saberes Cego Aderaldo. Com Linha Sul, reúne pela primeira vez todo esse percurso criativo em uma única mostra.

Serviço

Exposição Linha Sul
Local: Estação Benfica (área aberta ao público)
Terça a sábado, de 8h às 22h
Acesso gratuito