Negras Fortalezas: Secultfor e Instituto Cultural Iracema lançam agenda especial para celebrar a presença e a potência negra da cidade Programação gratuita de novembro inclui shows, ciclo formativo, oficinas e rodas de conversa na Vila das Artes, no Centro Cultural Belchior e na Casa do Barão de Camocim
Fortaleza não nasceu pronta. Antes de ser cidade, foi território. E antes das ruas e praças que conhecemos, foram passos, tambores e danças que marcaram o chão. A história da capital cearense é feita de disputas e reconstruções, e a presença negra, tantas vezes invisibilizada, segue pulsando em cada movimento que resiste ao apagamento. É nessa perspectiva que a Secretaria da Cultura de Fortaleza (Secultfor) e o Instituto Cultural Iracema (ICI) realizam, ao longo de novembro, a programação Negras Fortalezas.
Dando continuidade às políticas de valorização das negritudes promovidas pela gestão municipal ao longo de todo este ano, a iniciativa espalha ações formativas, shows, oficinas e debates nos equipamentos da Secultfor geridos pelo ICI: Vila das Artes, Centro Cultural Belchior e Casa do Barão de Camocim.
As atividades evocam as festas negras que fundaram territórios, das congadas aos maracatus, dos bailes de beco às batalhas de rima. Cada corpo em movimento é continuidade dessa história, reafirmando a arte e as celebrações como linguagens de memória e liberdade.
Para a secretária da Cultura, Helena Barbosa, o Fortalezas Negras é mais uma reafirmação do compromisso da Secretaria com o fortalecimento da Política de Ações Afirmativas, para além de efemérides como o Dia de Zumbi dos Palmares e da Consciência Negra. “Atuando em diferentes frentes, seja a partir da aplicação da política de cotas e bonificações em editais e premiações, programações protagonizadas por artistas negros e periféricos nas mais diversas manifestações, ou do diálogo com movimentos sociais e organizações representativas dos movimentos negro, quilombola e dos povos de terreiro, a Secultfor tem atuado de forma contínua para reparar as lacunas do apagamento histórico e social, celebrando, por meio da arte e do fazer cultural, toda a força criativa e o talento do povo preto”, destaca a titular da Pasta.
Ciclo formativo e Festival Black Era Fortal
Além de shows, oficinas e rodas de conversa, a programação inclui o Ciclo Formativo Negras Fortalezas, realizado no Centro Cultural Casa do Barão de Camocim. A série reúne pesquisadoras(es) e artistas em encontros sobre a presença negra na cidade e na cultura. Haverá tradução simultânea em Libras.
No dia 14/11, Hilário Ferreira e Cícera Preta discutem Histórias negras e a construção da cidade, com mediação de Paulo Ferreira. Em 21/11, Dione Silva e Izabel Accioly abordam O papel da cultura na educação para a equidade racial, com mediação de Mabel Castro.
O ciclo se encerra em 28/11, com a mesa Pesquisas Artísticas Afrorreferenciadas e o projeto Vem sambar na praça - Sambanca e convidados, formado por artistas que costumam se apresentar na Praça da Bandeira, em frente ao patrimônio histórico-cultural.
Também na Casa do Barão de Camocim, nos dias 27 e 29, será realizado o Festival Black Era Fortal, com programação afrocentrada que destaca a riqueza da música negra cearense e valoriza a produção cultural preta e periférica.
Negras Fortalezas
O conceito da programação e a identidade visual foram assinados, respectivamente, por Ana Aline Furtado, diretora da Casa do Barão de Camocim, e pela artista Amanda Nunes. O projeto retrata corpos negros em celebração: dourados, radiantes, em movimento.
“Uma cidade sem memória é uma cidade sem história. Como mulheres negras e gestoras, temos o compromisso de lembrar todos os dias das vidas e dos saberes que construíram este território. Se o gesto de lembrar é um gesto de reparação, nós queremos fazê-lo com dignidade e brilho”, defende Ana Aline Furtado.
A identidade visual propõe um outro olhar sobre o Novembro Negro, indo além da denúncia contra o racismo e ressaltando a criação que o povo negro imprime na cidade. Em cada traço, a artista Amanda Nunes reafirma que existir com alegria também é um ato político, e que as festas negras, as de ontem e as de hoje, seguem como afirmação de futuro.
Para a profissional, participar da criação da identidade visual do projeto foi um presente que se conecta ao desejo de sua pintura: fabular narrativas que imaginam corpos negros e marginalizados como dignos, sagrados, potentes e sensíveis. “São estratégias que nos mantêm vivos, aprendizados deixados por nossos ancestrais: seguir (também) pela fé, pela celebração e pela arte. Essas são as nossas Negras Fortalezas, forças que constroem passado, presente e futuro", afirma.
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