Saúde do Ceará reforça cuidados para prevenção da raiva humana; vacinação é a forma mais eficaz de proteção
Quem sofrer um acidente com animais deve procurar uma unidade básica de saúde para receber orientações
A raiva é uma doença infecciosa grave que atinge o Sistema Nervoso Central de mamíferos, levando-os à morte em aproximadamente 100% dos casos. O vírus do gênero Lyssavirus, causador da infecção, pode ser transmitido a humanos por meio de mordedura, lambedura ou arranhadura de animais contaminados.
A Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) reforça a importância das medidas de prevenção à doença, que pode ser evitada pela vacinação antirrábica em animais e em seres humanos. Em caso de acidentes com ferimentos em mãos, pés ou rosto, pode haver necessidade de administração combinada de soro antirrábico e vacina.
De acordo com o médico epidemiologista e coordenador da Célula de Vigilância e Prevenção de Doenças Transmissíveis e Não Transmissíveis (Cevep), Carlos Garcia, apesar de a doença estar relativamente controlada nos animais domésticos, a raiva continua em circulação entre as espécies silvestres. “Nos animais domésticos, temos uma boa cobertura vacinal. No entanto, raposas, guaxinins, soins e morcegos podem levar a doença para os animais domésticos ou de criação em ambientes rurais”, explica.
Cenário epidemiológico
No período de 2008 a 2024, o Ceará registrou seis casos de raiva humana nos municípios de Camocim, Chaval, Ipu, Jati, Iracema e Cariús, conforme boletim epidemiológico disponível no site da Sesa. A Secretaria da Saúde do Ceará confirmou, neste ano, uma nova ocorrência da doença. Uma mulher de 58 anos, moradora do município de Jucás/CE, foi diagnosticada com a infecção após receber assistência no Hospital São José (HSJ), unidade referência no estado em Infectologia. A análise do exame foi realizada pelo Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen/CE) e confirmada pelo Instituto Pasteur – São Paulo.
A paciente, que não havia sido vacinada após o acidente, relatou ter sido mordida por um sagui em novembro do ano passado. Em 27 de janeiro deste ano, ela buscou atendimento em um hospital do município com náuseas, dificuldade de engolir e de falar e hidrofobia (aversão à água). Por apresentar sintomas característicos da doença, a mulher foi encaminhada no dia seguinte ao HSJ, onde está hospitalizada.
A articuladora do Grupo Técnico de Zoonoses da Sesa, Kellyn Cavalcante, ressalta que a Sesa realizou inquérito epidemiológico e busca ativa de animais silvestres na Região de Jucás. A equipe também intensificou ações de educação em saúde para profissionais da assistência e Agentes de Combate às Endemias. “Estivemos presencialmente e também realizamos uma webconferência sobre as profilaxias pré e pós-exposição. Estamos trabalhando de forma integrada com a imunização e o controle animal”, disse.
Em 17 anos, esse é o quinto caso de raiva humana transmitida por saguis, primatas de pequeno porte conhecidos popularmente como soins. O médico Carlos Garcia orienta a população a manter distância desses animais que, pela origem silvestre, não podem ser vacinados. “As pessoas devem evitar manter contato, seja alimentando ou acariciando. Caso note algum deles com comportamento estranho e fora do bando, a Secretaria Municipal da Saúde ou o Setor de Controle de Zoonoses deve ser comunicada para realizar a contenção correta”. A orientação também vale para outros animais silvestres, como raposas e morcegos.
Animais domésticos e de interesse econômico, como cavalos, bois e porcos, devem ser vacinados
Vacina e soro antirrábico
Segundo a diretora técnica e infectologista do HSJ, Ruth Araújo, a vacinação e o soro antirrábico ainda são a principal forma de prevenção contra a raiva para seres humanos. “A prevenção é a melhor forma de evitar a morte pela raiva. Existe a vacinação pré-exposição para quem mantém contato frequente com animais, como veterinários, e a pós-exposição para quem sofreu algum acidente”.
Caso uma pessoa seja agredida por algum animal, o recomendado é lavar o ferimento com bastante água e sabão e buscar imediatamente o posto de saúde mais próximo. O médico indicará a conduta adequada, considerando tanto a gravidade da lesão, como o animal que ocasionou o acidente.
A vacina antirrábica é administrada em quatro doses ao longo de duas semanas (no primeiro, terceiro, sétimo e 14º dia após o acidente), enquanto o soro antirrábico é aplicado em dose única no local da ferida. “Caso o animal agressor seja de rua ou silvestre, existe a necessidade do soro antirrábico, assim como em casos de acidentes graves com animais domésticos, como mordidas nas extremidades ou no rosto”, pontua a diretora técnica do HSJ.
Em 2024, o Ceará cumpriu a meta de vacinar 2,5 milhões de animais em todo o estado, sendo cerca de 1,5 milhão de cães e mais de 900 mil gatos. A imunização ocorre anualmente. Para receber a vacina, o animal precisa estar saudável e ter mais de dois meses de vida. Também existem imunobiológicos específicos para animais de produção, como bois, cavalos e porcos.
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